Orago da Guarda
Diz-se…por aí…que Frei Pedro é (ou será) o santo padroeiro da Guarda.
Santa Ignorância, digo eu! Frei
Pedro da Guarda nunca foi beatificado santo!
“No
entanto, o processo da beatificação continuou e continua em Roma, não sendo
para admirar a sua demora, pois que Nun’Alvares — a grande figura nacional —
mais velho que Frei Pedro da Guarda, só há pouco foi beatificado.
De desejar
é que todos os egitanienses rezem por esta beatificação, para glória de Deus e
também desta nossa Guarda, que todos amamos.”
Fonte: Frei Pedro da Guarda - Um estudo histórico de Nuno Montemor, publicado
no Jornal A GUARDA na sua edição de 23 de Julho de 1948 e reeditado em
separata a 17 de Outubro de 1950.
“I — Estudos
EVOCAÇÃO DE FREI PEDRO DA GUARDA
NO QUINTO CENTENÁRIO DA SUA MORTE
* D. Frei António Montes Moreira, ofm * Bispo de Bragança-Miranda
* Conferência proferida na Casa da
Cultura de Câmara de Lobos a 27 de Julho de 2005.
No século XIX, em 1835, registou-se
um episódio triste na história multicentenária do culto a Fr. Pedro da Guarda.
Nessa altura de implantação do Liberalismo, a generalidade das dioceses do país
era governada por Vigários Capitulares impostos pelo Governo sem o beneplácito
da Santa Sé.
Foi uma situação de “cisma não
declarado” na Igreja em Portugal, que se prolongou até 1841 quando se reataram
as relações diplomáticas entre Portugal e a Santa Sé.
Por ironia da história, o Vigário
Capitular do Funchal era o egresso franciscano Cónego António Alfredo Braga,
muito influenciado pela ideologia liberal e que considerava nefasto
obscurantismo o culto prestado a Fr. Pedro da Guarda. Por isso, decidiu
suprimir essa devoção popular. A 2 de Junho de 1835 efectuou uma visita
extraordinária ao antigo convento de S. Bernardino. Mandou queimar a imagem e
as relíquias de Fr. Pedro da Guarda “para desengano perpétuo das almas crédulas
ou supersticiosas”, como ele próprio esclareceu numa circular enviada no dia
seguinte a todos os párocos da Diocese. Nesse mesmo documento, o Vigário
Capitular proibiu qualquer forma de culto a Fr. Pedro sob pretexto de que ele
não tinha sido beatificado do modo expresso no Direito Canónico.
Apesar deste incidente de percurso,
o culto ao Santo Servo de Deus, embora sofresse abrandamento, não se extinguiu.
Uma retoma significativa verificou-se no final do século, por intermédio da
Obra Diocesana de S. Francisco de Sales, com a publicação de um extenso artigo
sobre o Servo de Deus em 1897-1898. Também contribuiu para o mesmo objectivo a
acção da Ordem Franciscana Secular que manteve capela própria junto ao
convento. A 18 de Julho de 1905, no quarto centenário do falecimento de Fr.
Pedro, o Bispo D. Manuel Agostinho Barreto promoveu e presidiu a uma reunião
extraordinária do Tribunal Eclesiástico do Funchal, que decretou a
ilegitimidade da proibição do culto de Fr. Pedro pelo Vigário Capitular António
Alfredo em 1835*45.
4. Concluo com uma breve
apresentação do terceiro painel do tríptico desta exposição: história do
processo de beatificação de Fr. Pedro da Guarda. É uma história longa que passo
a resumir nas suas grandes linhas.
Tanto quanto sabemos, elaboraram-se
onze processos com vista à beatificação. Tudo indica que nem todos terão seguido
para Roma.
O primeiro deve ter sido aberto em
1597, aquando da trasladação dos restos mortais do Servo de Deus para a igreja
do convento. Provavelmente terá sido apenas uma recolha de milagres.
A seguir, organizou-se outro em 1620 e mais um em 1623. Este foi apresentado em Roma ao Papa Urbano VIII, o qual “mandou passar ordem em 30 de Agosto de 1625 para que o mesmo Bispo [D. Jerónimo Fernando] fizesse nova inquirição por autoridade apostólica” (193b). O processo pedido pelo Papa ficou concluído em 1628 e dele se fizeram duas cópias. Uma foi para Roma e perdeu-se por descuido dos agentes: outra ficou no Funchal, mas já estava incompleta em 1652.
Entretanto, apareceu publicado em
Nápoles em 1626 outro processo para a beatificação do Servo de Deus.
Em 1652 o Deão Pedro Moreira, então
Provisor do Bispado do Funchal em situação de Sé vacante, elaborou outro
processo com novos casos de milagres (194a). Pelo mesmo ano, Fr. Baptista de
Jesus organizou dois processos, um no Funchal e outro em Lisboa, e partiu para
Roma, para tratar pessoalmente do assunto, mas regressou à Madeira sem nada
conseguir.
Soledade anota, a este propósito,
que “nestas matérias têm mais eficácia a diligência e habilidade dos
Procuradores do que o afecto particular dos devotos” (194a).
Seguiram-se ainda mais dois
processos de milagres para efeito de beatificação: um em Lisboa em 1655 e o
segundo no Funchal, mais tardio, no tempo do Bispo D. Frei Manuel Coutinho
(1722-1739).
Os próprios Reis se interessaram
pela beatificação de Fr. Pedro da Guarda e cuidaram de garantir receitas para
ocorrer aos encargos do processo. Com essa finalidade saíram provisões régias
em 1653, 1729 e 1753 (de D. João IV, D. João V e D. José I, respectivamente)
determinando que metade das condenações judiciais decretadas na Madeira fosse
canalizada para a beatificação do Servo de Deus.
O último processo foi organizado no
Funchal por iniciativa de D. Manuel Agostinho Barreto em 1905, no quarto
centenário do passamento de Fr. Pedro da Guarda. Algumas peças do mesmo saíram
publicadas em forma avulsa em 1908. Há notícia de alguma correspondência sobre
a situação deste processo em Roma em 1912 e 1926. Neste mesmo ano o P. João
Vieira Caetano, para apoio documental do processo, escreveu uma monografia
intitulada O Santo Servo de Deus Frei Pedro da Guarda (1435-1505): breve resumo
da sua vida, culto e milagres que lhe são atribuídos e que não chegou a ser
impressa.
Por fim, acrescento duas
intervenções de autoridades civis junto da Santa Sé a respeito de Fr. Pedro da
Guarda. Em 24 de Novembro de 1624 a Câmara Municipal da Guarda pediu a sua
beatificação e a 24 de Outubro de 1905 (ano jubilar do Servo de Deus) a Câmara
Municipal de Câmara de Lobos solicitou o restabelecimento do “culto público e
oficial do Santo Servo de Deus”*46.
Decorridos vários séculos, a causa
de beatificação de Fr. Pedro da Guarda continua em aberto.
*45 Cf. Quinzena Religiosa da Ilha da Madeira, 1 de Agosto de 1905, nº. 108, p.
237, cit. por J. A. Correia Pereira, S. Francisco de Assis na Madeira, p.
127-128 e 174.
*46 Texto publicado na revista Girão, Câmara de Lobos, nº. 10, 1993, p. 492.”
Nota - António Montes Moreira nasceu em 1935. É licenciado em Teologia pela Universidade Católica
de Lovaina (Bélgica); doutorado em História da Igreja Antiga pela mesma
Universidade. É professor associado da Faculdade de Teologia da Universidade
Católica Portuguesa; membro da Academia Portuguesa de História; bispo da
diocese de Bragança-Miranda. As suas áreas de especialização e interesse são:
história da igreja antiga em Portugal; história do franciscanismo em Portugal.
Fonte:
www.ft.lisboa.ucp.pt/site/custom/template/ucptpl_popup.asp?sspageid=885&artigoID=248&lang=1
A Virgem Maria na formação de Portugal
Ao separar-se da monarquia leonesa,
o Condado Portucalense tinha restauradas duas dioceses – Braga e Coimbra, e
ambas as catedrais eram dedicadas a Santa Maria, como o eram também muitos
templos e mosteiros mencionados nos documentos deste período.
Em 112, restaurou-se a diocese do Porto, a cuja catedral, também dedicada à «honra e louvor da Bem-aventurada Virgem Maria», D. Teresa doou, em 1120, o burgo Portugalense.
Seguiu-se a restauração ou criação
de outras dioceses – Lamego e Viseu, em 1147; Lisboa, por 1148; Évora, 1166;
Algarve, 1189; a Guarda, em 1203, e todas elas tomaram a Virgem-Mãe para
padroeira das suas catedrais .
(8) «Ecclesie Sancte Marie Portugalensis sedius» em Documentos Medievais Portugueses, Régios, I, n.os 53, 76, 109, 165 e 220.
(9) «Ecclesie Sancte Marie episcopalis sedis Visiensi», «Beatissime Marie
Olisiponensis sedis» e «Beate Marie Elborensium» em A. E. Reuter, Chancelarias
Medievais Portuguesas, I, n.os 152 e 204, e Régios, I, n.os 19, 41, 232 a 235,
240, 334, 352, 353, 355, 358.
Fonte: A Virgem Maria
Padroeira de Portugal na Idade Média, de P. Avelino de Jesus da Costa,
(Bolseiro do Instituto de Alta Cultura) repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/.../LS_S1_02_AvelinoJCosta.pdf
“Contactos
da Igreja Católica em Portugal – Anuário Católico
“Qual é o santo padroeiro da Guarda?”
Notícia de Rádio
Altitude (publicada no Facebook):
“Actualidade Publicado em quinta, 28 novembro 2013, 20:25 Qual é o santo padroeiro da Guarda?
O novo presidente da
Câmara quer encontrar um santo padroeiro para a Guarda. Por devoção, estratégia
de marketing ou desejo de romaria, Álvaro Amaro anunciou esta quarta-feira,
durante a sessão solene do Dia da Cidade, que a autarquia vai, em conjunto com
a diocese, tentar identificar o orago da Guarda.”
“Qual é o santo padroeiro da Guarda?”
Minha publicação (resposta!) em vários
locais: entre outros, “Facebook” e ”Wikipedia Guarda” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Guarda).
Este tema parece ter passado à história…
Nunca mais foi publicamente abordado,
nem pelo Senhor Presidente da Câmara, nem pelo Senhor Bispo, nem pela Rádio
Altitude.
Porque a memória é, frequentemente,
curta, aqui fica a minha resposta, que publiquei na página da Guarda, na
Wikipédia:
Orago
A Virgem da Assunção é a Padroeira da Guarda!
Não é por acaso que:
1 - Por cima da entrada principal, ao
centro, está a estátua da Virgem da Assunção, ladeada pelas torres sineiras com
a heráldica de D. Pedro Vaz Gavião.
2 - O altar-mor (da Sé Catedral),
atribuído a João de Ruão e mandado fazer ca. 1553 pelo bispo D. Gregório de
Castro, é composto por um retábulo com uma centena de figuras esculpidas (do
Antigo e do Novo Testamento) em pedra de Ançã. Um dos painéis centrais é
ocupado por uma estátua invocando Nossa Senhora da Assunção.
3 - "Na Estatística Paroquial está
referido que a paróquia da Sé, de Nossa Senhora da Assunção, era um priorado
apresentado pelo bispo local."
• Segundo Adriano Vasco
Rodrigues:“…imagem em granito da Senhora da Assunção, padroeira da Guarda.”
Fonte: ‘A Catedral da Guarda, motivo de
orgulho!’, de Adriano Vasco Rodrigues, em GuardaViva Boletim Municipal, Nº 1
(página 21)
• “Fachada principal virada a O., sendo
visível um primitivo remate em pena angular, sendo rasgada por portal em arco
abatido, com cogulhos internos, que se entrelaçam, dando origem a uma nicho com
mísula e baldaquino, onde se integra a imagem de Nossa Senhora da Assunção; é
ladeado por dois colunelos finos, assentes em bases altas com toros e escócias,
surgindo, nos intercolúnios, mísulas ornadas por folhagem protegidas por
baldaquinos; o colunelo exterior prolonga-se sobre o nicho da Virgem, em arco
canopial, com cogulhos internos e externos, sendo flanqueado por dois possantes
gigantes, constituídos por amplas bases, de onde saem feixes de colunas torsas,
rematando em pináculos também torsos e com florão.”
“Na Estatística Paroquial surge referido
que a paróquia da Sé, de Nossa Senhora da Assunção, era um priorado apresentado
pelo bispo local.”
Fonte: Sistema de Informação para o
Património Arquitectónico
• "...No centro a Virgem da
Assunção, padroeira da cidade da Guarda.”
Fonte: MONOGRAFIA ARTÍSTICA DA GUARDA,
Adriano Vasco Rodrigues, (2ª edição, 1977, página 98, 2º parágrafo).
• “Diocese da Guarda (Diœcesis
Ægitaniensis) Padroeiro: Nª Senhora da Assunção”
• "Num nicho central, vê-se a
imagem de Nossa Senhora da Assunção, padroeira da Guarda."
Fonte: Património & Turismo,
Distrito da Guarda 1999 [ (‘REGISTOS: Ministério da Justiça, Empresa
Jornalística Nº 222033, ICS (Titularidade) Nº 122034] , página 46.
• "Paróquia:
Guarda; Orago: Nossa Senhora da Assunção"
Fonte: CÚRIA DIOCESANA DA GUARDA -
ANUÁRIO CATÓLICO
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